Fato X Interpretação: Como saber diferenciá-los pode te ajudar a regular emoções e evitar conflitos com as pessoas?
- Maria Eduarda Dreyer de Alencastro

- 10 de abr.
- 4 min de leitura
Quero te apresentar uma forma simples de entender a diferença entre o que são fatos e o que são interpretações, e como que ter clareza disso pode te ajudar a se sentir melhor consigo mesmo e não se meter em discussões desnecessárias.
O que eu vou falar aqui não é uma técnica que irá te impedir de ficar irritado, chateado ou de sentir injustiçado pelos outros, e também não vai te blindar de discordar das outras pessoas. Mas saber identificar o que é apenas a tua interpretação ou opinião e o que é um fato, certamente vai fazer alguma diferença na tua vida.
Então, vamos começar com um exemplo prático.
É verdade que isso aqui é uma caneca?

Tem formato de caneca, tem tamanho de caneca, nós conseguimos ver este objeto e possivelmente nós aprendemos a nomear isso como caneca. Isso parece ser uma verdade, um fato. Simples, né?
Agora, é verdade que essa é a melhor caneca do mundo? Ou, é fato que essa caneca não presta? Ou quem sabe, que...essa caneca é grande demais?
Depende....depende pra quem, depende para que? Depende de quando, onde...Faz sentido isso?
Estamos aqui frente a esses dois conceitos, fato e interpretação.
Fato é aquilo que eu posso captar através dos meus cinco sentidos, lembra deles? É através dos nossos sentidos que percebemos o que está no mundo, o que há em comum entre nós. Ou também é aquilo que podemos sentir internamente - sabe as sensações que temos em nosso corpo, tipo a dor, um frio na barriga, ou inclusive a percepção de que estamos pensando? O ato de sentir e pensar são também perceptíveis à nossa consciência, por isso sentir e pensar são fatos. Quando olhei a foto me deparei com dois fatos: que estou segurando uma caneca rosa e que tive o pensamento que ela é especial.
Mas atenção, o que eu penso dessas coisas todas que eu posso captar são as minhas interpretações. O conteúdo de meus pensamentos pode ser simplesmente minha própria opinião.
O que faz dessa caneca ser especial? Talvez seja porque eu comprei para usar no meu primeiro consultório e ela me traz boas lembranças...mas isso é uma opinião minha particular. Talvez tu tenha uma caneca igual e ache ela pesada, e não tenha a mesma opinião do que eu. E tudo bem.
A diferença entre interpretação e fato fica muito clara quando duas pessoas assistem juntas a mesma a mesma série, por exemplo, e uma delas gosta e a outra acha sem graça, um tédio... O fato é a gravação da série em si, e a interpretação é a avaliação (acha legal ou sem graça).
As nossas opiniões e interpretações sobre os fatos irão refletir os nossos valores, ou valores da nossa família, da sociedade...refletem também às nossas experiências anteriores, aquilo que fomos aprendendo ao longo do tempo. Já os fatos, são apenas o que são e podem ser notados por todos nós. Por incrível que pareça, é muito fácil confundir essas duas coisas.
E tu podes estar te perguntando - por que diferenciar isso vai me ajudar?
Por vários motivos. Abaixo apresento dois deles:
REGULAÇÃO EMOCIONAL
Para ter domínio sobre o que você sente ou controle sobre suas atitudes, reconhecer fatos e distingui-los das interpretações é primordial!
Memorize isso, nossas interpretações influenciam e despertam nossas reações emocionais, assim como nossas emoções influenciam nossas interpretações.
Veja só essa imagem:

Se você pensar que cachorros são perigosos (interpretação), talvez possa ter tido uma reação desagradável, de medo, só de olhar pra essa foto.
Mas se você é fã de carteirinha de um bichinho e pensa "que amor" (outra interpretação), pode ter ficado sorrindo e querendo abraçar esse cão.
Ou seja vi a foto - tive uma interpretação/emoção - e logo um impulso de ação/ ou ação.
Se eu consigo reconhecer que minha percepção de perigo ou minha empolgação são apenas meus pensamentos e minhas emoções, há uma tendência natural de redução da intensidade da minha resposta emocional. Sabendo que no momento presente o fato é que estou frente a uma foto de um cachorro, eu não preciso sair correndo de onde estou agora, pois o cachorro não está aqui. Mesmo que meu cérebro ative no meu corpo o impulso de me proteger e me gere algum desconforto, reconhecer o fato auxilia na contenção do impulso e alívio do mal estar, além de me trazer a possibilidade de escolher como responder à minha emoção, ou seja, ter regulação emocional.
QUALIFICAR RELAÇÕES
Outro motivo está ligado a nossa capacidade de respeitar e validar a opinião e experiência das outras pessoas.
Digamos que eu sou a pessoa que adora animais e pensa que o cachorro da foto acima é um fofo. Se eu assumo a minha forma de pensar, ou seja - minha interpretação - como "A" forma correta e digo para quem pensa que os cachorros são animais perigosos que ela não deveria ter medo, que é bobagem sentir isso, possivelmente irei magoar essa pessoa, não acham? Não é uma escolha deliberada sentir medo nem mesmo ter qualquer pensamento. Grande parte do que pensamos surge de forma automática em nossa mente. É válido lembrar que, frente a uma invalidação, muitas pessoas reagem defensivamente, às vezes com raiva e iniciando uma discussão ou se calando e evitando o contato.
Quando assumo as minhas interpretações como verdades absolutas, acabo me fechando para outras perspectivas e opiniões tão válidas quanto as minhas. Por vezes, posso tentar impor aos outros a minha visão ou querer provar a todo custo que estou certo. Saber conviver com a opinião alheia e reconhecer que as pessoas têm diferentes interpretações sobre os mesmos fatos são atitudes que fazem diferença para o convívio social e para a criação de vínculo com as pessoas. Afinal, nos vinculamos quando estamos abertos a conhecer os outros e mostrarmos como somos, acolhendo as divergências.
Podemos ter/ver diferentes verdades, enquanto os fatos são os fatos para todos.
Como você encara as diferentes verdades? Você consegue distinguir suas interpretações do fatos?
Na psicoterapia você pode desenvolver essa habilidade e qualificar suas relações!





Comentários